quinta-feira, 26 de março de 2009

O Fenômeno Tecnológico Através da História

Através do texto de André Lemos, “O Fenômeno Tecnológico Através da História”, temos um resgate sobre as mudanças que a técnica sofreu ao longo do tempo, tanto em suas aplicações como em suas definições. Vemos a evolução dos sistemas técnicos através de inovações e invenções de ferramentas, máquinas e instrumentos.

Divido em sete tópicos, os quais se referem aos períodos da humanidade, o texto inicia com as origens pré-históricas dos sistemas técnicos. O autor afirma que a origem do homem coincide com a origem da técnica. Os primeiros sistemas instauraram-se a partir de dois motivos: a potência dos Deuses e a imitação da natureza, ou seja, neste momento, a técnica é vista como atividade de origem divina e é tida como arte. Como cita o autor, proposto por Simondon, a técnica separa-se da religião, mas não perde o seu caráter sagrado. Assim, o sagrado e o profano se estabelecem. O sagrado como sendo uma qualidade do mundo (fundo) e o profano como o mundo concreto, onde o homem pode agir através de seus instrumentos. A técnica, na pré-história é associada ao profano, mas também à potência divina, portanto, temos um paradoxo sagrado/profano que envolve a técnica, o qual podemos ver até os dias de hoje. Ainda citando Simondon, André Lemos afirma que o modelo da técnica desta época é o da fase mágica, que caracteriza a técnica como de sacralização. A vida social era fechada numa rede de técnicas mágicas, e não existia um universo técnico independente da vida social. O objeto técnico será, portanto, depositário de um medo e de uma fascinação que perseguem a sociedade até os dias de hoje. A técnica sagrada pode ser traduzida como o desejo do homem primitivo em obter respostas de fundo.

Mas é a partir da revolução do Neolítico que surgiram as primeiras civilizações e o primeiro sistema técnico desenvolvido, pois é com as primeiras civilizações que surgem sociedades estruturadas a partir de um poder hierárquico, surge a escrita, o desenvolvimento dos transportes, da metalurgia e da arte da guerra. Essa conjuntura vai formar o primeiro sistema técnico coerente da humanidade. Contudo, o autor afirma que o Egito conheceu um verdadeiro sistema técnico sem, necessariamente, ser inovador. Historiadores observam que por ser uma civilização fechada e muito bem estruturada, os egípcios tinham suas inovações tecnológicas inibidas. Outra civilização citada é a grega, sobre a qual é dito que, no seu sistema técnico, o progresso não é global, não há grandes inovações em relação à civilização egípcia e técnicas novas e artesanais estão lado a lado. A evolução de uma para outra é imperceptível. Segundo o historiador Gille, oo bloqueio grego se dá por três razões: ao associar pela primeira vez técnica à ciência, os limites da ciência grega poderiam limitar o nível do desenvolvimento técnico; dispondo de escravos, os desenvolvimentos técnicos não seriam fundamentais; o desprezo pela filosofia de Platão e Aristóteles em relação à tekhné pode, também, ter limite o progresso. Mas, é na civilização helênica que nasce a preocupação em achar explicações racionais em relação à ciência e à técnica. Em função deste momento, a técnica começa a ser dessacralizada, ou seja, é desligada totalmente da religião. A técnica passa de um estado de mera intuição a um novo estado de investigação, sendo investida pelo discurso filosófico, assim uma ciência grega nasce com o desenvolvimento da matemática, da geometria e da aritmética. Através dos sofistas surgem os manuais-receitas, os quais são normas práticas sobre a moral, a política, a economia e a religião. No império Romano, os agricultores vão, com a conquista de novos territórios, conhecer novas técnicas e adquirir conhecimentos dos povos dominados. Assim, os romanos assimilam novas técnicas e as expandem por todo o império, sem Sr necessariamente inovadores. A grande invenção dos romanos situa-se no campo da energia e da administração, incluindo o direito, a arquitetura e a urbanização. Desenvolveu-se, também, o transporte naval, máquinas hidráulicas e ferramentas de guerra.

A Idade Média, mesmo sendo conhecida como a época das trevas, foi também um período de intensa atividade técnica. Ao instalar-se o feudalismo, as Cruzadas abrem as portas do Oriente e o comércio de técnicas se estabelece. A técnica é, nesse período, elemento de reflexão, onde a ciência começa a sentir a necessidade da técnica e vice-versa. O empirismo passa a ter seu lugar no desenvolvimento de uma tecnologia ou, ao menos, aparece como uma preocupação quanto à reflexão ordenada e sistemática da técnica. Neste período as grandes inovações estão também na energia, porém, são as energias eólicas e hidráulicas que se destacam, com o estabelecimento do moinho a vento. O aperfeiçoamento na utilização do metal permite o começo de uma atividade industrial, passando a indústria têxtil por algum melhoramento já no século seguinte. Todos os elementos que preparam a modernidade estão colocados: um sistema técnico baseado no empirismo e na quantificação matemática, a divisão do tempo (com a invenção do relógio), o espírito conquistador da natureza, onde a técnica torna-se laica e secularizada. “a técnica não remete mais à natureza (...) mas ao próprio ser humano. A técnica tende a se antropomorfizar ou, mais exatamente, a se antropocentrar.”.

O Renascimento é tido como a era do maquinismo, já que nele surge o sistema biela-manivela, que vai proporcionar uma revolução maquínica cujo desempenho estava limitada ao uso da madeira. Com o maquinismo, este período será um grande demandador de energia, fazendo do século XV o terreno de uma primeira revolução formada pela tríade bússola, pólvora e imprensa. Aqui, radicaliza-se o fascínio pela descoberta científica, há um giro epistemológico que prepara o imaginário social para a modernidade. A razão passa a ser o centro do universo inteligível e, a técnica, busca a o meio legítimo e ideal para conquistar e “dominar a natureza”. No Renascimento, a substituição de uma estrutura onto-teológica (explicações de ordem divina) por uma estrutura onto-antropológica (razão científica) está em jogo, atingindo seu auge com a Revolução Industrial.

Podemos chamar a Revolução Industrial de uma mudança na gestão social do mundo. Em meados do séc. XVIII surge esse fonômeno que trás a invenção da máquina a vapor, transforma o setor têxtil e passa a usar o ferro e o carvão com mais frequência. Este período ficou marcado maioritariamente por suas inovações, já que muitas técnicas existentes foram sendo aprimoradas.

É nesta época que se pensa a técnica junto da economia politica e da vida social, como se verifica nas idéias Marxistas sobre o industrialismo e trabalho. O mito da modernidade reafirma essa posição, pois observa-se pela primeira vez a questão da técnica relacionada com a cultura e a história.

Seguindo esta linha e avançando no tempo, na segunda metade do séc. XIX surge um novo sistema técnico com base na eletricidade, no petróleo, no motor a explosão e nas indústrias de síntese química. O crescimento demográfico, a organização industrial e bancária, a produção de energia em larga escala e o desenvolvimento das redes de transporte são fatores que acompanharam todo este desenvolvimento. Megamáquina é o conceito proposto para representar a organização que vai se instaurando com os novos avanços tecnológicos. A ciência e a técnica passam a ter valores como a objetividade, racionalidade instrumental, universalismo e neutralidade.

Crenças, lendas urbanas, mitos e simbolismos passam a fazer parte da tradição e a tecnologia moderna, torna-se o instrumento que permite transformar e regenar o mundo.

Com a afirmação plena das novas tecnologias surge o mito da transparência, onde a comunicação se torna instantânea mesmo separada por oceanos.

Em suma, a partir do momento em que a mente e o corpo são separados, a natureza é dessacralizada e o Homem substitui Deus no centro do mundo, grandes mudanças iniciam-se. A razão passa a ser independente e é a norma que dirige o progresso. Esta fase é uma preparação para o futuro, misturada de sonhos e convicções baseadas nas novas técnicas científicas, e na crescente urbanização.

A fase de pós-modernidade, substitui o sonho por uma onda de poluição, desigualdades socio-econômicas e políticas, violência, etc.

As distâncias, muitas vezes inter-continentais não são mais uma barreira à comunicação, que passa a ser em tempo real. Surge um mundo virtual onde muitas vezes possuímos uma espécie de controlo sobre o espaço e o tempo. Chegamos ao pós-modernismo. A fase da ubiquidade, fase da cibercultura.

Nathália Kern e Farha Abdula

quinta-feira, 19 de março de 2009

... para entender melhor a cibercultura.

O professor iniciou a aula esclarecendo alguns conceitos empregados no texto. Zeitgeist, o pensamento, o espírito de uma época; Noosfera, a esfera das idéias; Geosfera e mais uma esfera. Passou, então, para a diferenciação entre socialidade e sociabilidade. Sociabilidade é a relação que acontece em função de uma estrutura formada, onde se tem um objetivo. É a relação institucionalizada, a que acontece, por exemplo, em uma sala de aula. Já socialidade, são as relações de amizade, por exemplo, que não dependem de uma instituição para existir.

Tendo definido esses conceitos, passamos a revisar o conteúdo do texto. Não discutimos sua parte introdutória, onde faz um panorama generalizado da ciberultura, passando diretamente para a parte em que fala sobre a técnica (Tékhne).

Tékhne, vem do grego e quer dizer Arte no sentido de praticar alguma atividade. Diferencia-se, aqui, a Tékhne, que é o saber fazer humano, da phusis, que o princípio de geração das coisas naturais. A diferença fundamental, segundo os gregos, entre o fazer natural e o fazer do homem, é que o primeiro é autopoiético. Poièsis é, segundo Lemos, a passagem da ausência para a presença, característica presente tanto na tékhne quanto na phusis. Essa última tem, porém, a capacidade de se auto-reproduzir, que é a autopoiese. O homem chega à poiése a partir do momento em que passa a utilizar a técnica.

O conceito de Tékhne foi analisado de diversas maneiras pelos gregos. Os sofistas separavam o saber prático do saber teórico (Épstèmé), dizendo que eram dissociados um do outro. Platão vê a técnica como inferior à Épstèmé. Já Aristóteles considera as atividades práticas como sendo inferiores phusis, já que, mesmo imitando e dominando essa, a técnica não alcança a auto-poièsis.

A técnica é uma forma de relação entre os seres vivos e a natureza, e é responsável pela evolução humana. Nossa evolução se dá em função da técnica. A partir do momento em que nos protegemos do frio com peles de animais, nosso corpo deixa de precisar de tantos pelos, e, por isso, deixa deproduzí-los. Por isso se diz que “é a Tékhne que inventa o homem”. Aos poucos, porém, a técnica deixa de afetar nosso desenvolvimento físico. Isso acontece porque deixamos de estar em contato tão intenso com a natureza. Passamos, então, a criar aparatos tecnológicos, que não mais têm influencia em nosso desenvolvimento. É nesse ponto que, segundo Lemos, surge a linguagem, já que para se alcançar instrumentos é necessário que se sinalize esse desejo de alguma forma.

A introdução do uso das máquinas distanciou o pensamento que se tinha de homem-técnica. A posição que a máquina ocupou na sociedade foi responsável pela sensção de que a tecnologia não fazia parte da cultura humana.

Simondon, um dos mais importantes filósofos da técnica do século XX, tentou quebrar com esse pensamento quando desenvolveu estudos que defendiam a idéia da filosofia dos mecanismos, sugerindo que a tecnologia contemporânea corresponde a uma lógica, segundo o desenvolvimento das técnicas primitivas.

A tecnicidade aparece, então, para resolver problemas da relação homem-mundo (fase mágica). Nessa fase, a relação homem-mundo é tanto objetiva quanto subjetiva. Porém, a partir da saturação da fase mágica, o homem cria a técnica para resolver seus problemas relacionados aos fenômenos da natureza e cria também a religião para tratar do espírito e da imaginação. Com o surgimento de 3 tipos de realidade - o mundo, o sujeito e o objeto - a técnica e a religião também se saturam dando origem à tecnologia e ciência; e ao dogma e ética.

Simondon propõe três níveis de desenvolvimento para o entendimento da evolução dos objetos técnicos: a ferramenta, a máquina e as indústrias. Com o século XXI surge um novo nível, em que a cibercultura se faz presente. "Aqui as meta-máquinas digitais (computadores) não manipulam mais matéria e energia. Agora trata-se de traduzir a natureza em dados binários" (LEMOS, 2002 :36).

Heidigger acredita que na visão antropológica da técnica não se revela toda a sua essência. Ele entende por poèsis o processo que revela uma verdade, podendo ser natural (phusis) ou artificial (teknè). A diferença da técnica primitiva e da tecnologia estaria no embasamento científico que a tecnologia possui. Heidigger acredita que a essência da tecnologia está no que ele chamou de Gestell, uma provocação científica da natureza. Ele não é contra a técnica, mas a afirma que há o mistério da sua essência e que o perdigo estaria no Gestell como destino do ser do homem.

Em sala de aula pudemos perceber a forma com que a técnica evoluiu, primeiro de uma forma sem embasamento científico, passando, então, a estar associada a ele, originando a tecnologia. Encontramo-nos agora em uma fase nova, em que a cibercultura é a grande atuante. Ela não é uma cultura definida pela tecnologia, mas sim uma relação entre novas formas sociais e novas tecnologias digitais.


Cezar A. Simon e Letícia V. Sebastião

Da Tekhnè à Cibercultura: Como a utilização da técnica possibilitou o surgimento do ciberespaço

Assim que a aula iniciou, o professor Gilberto Consoni diferenciou os conceitos de Socialidade (compartilhar, discutir questões da cultura ou questões não programadas) e Sociabilidade (relações institucionais, a exemplo de assuntos do trabalho, universidade). Logo após, esclareceu diversos conceitos empregados no texto de André Lemos, tais como Zeigeist, Noosfera e Geosfera.

A partir daí, iniciamos a discussão sobre a temática do texto propriamente dito, indo direto ao ponto onde o autor trata da Tekhnè (do grego, arte), que se define como o saber fazer do homem, e, de acordo com o autor, é justamente a Tekhnè que diferencia este fazer humano do fazer natural (o brotar de uma flor, fazer o sol nascer a cada dia). Junto com a Tekhnè, a Phusis faz parte do processo de vir a ser, porém Phusis é o próprio fazer natural autopoético – de autoreprodução –, no qual o homem não é capaz de realizar, segundo o filósofo Aristóteles. Tendo em vista tal limitação, o homem se utiliza da Tekhnè para controlar o natural.

Entra, nesse ponto, a questão do conhecimento, em que os sofistas separam a prática da técnica, onde Tekhnè é o saber prático e Épstèmé é o saber teórico. Essa diferenciação é criticada por Platão, pois sua visão filosófica afirma que isso é quase impossível, já que para ele não pode haver o conhecimento prático sem ter o conhecimento natural, que é superior. Aristóteles também tem essa visão filosófica, complementando essa idéia ao passo que diz que Tekhnè é o saber prático que imita e domina a Phusis.

Para definir técnica, o professor citou Rüdiger, que afirma que técnica é a aplicação do saber passivo de desenvolvimento, mas não de pleno acabamento ou total perfeição. Quando o homem sente a necessidade de realizar uma tarefa, ele cria uma técnica pra cumpri-la, ou seja, podemos afirmar que a técnica era de cunho zoológico, até a fase de formação do córtex, desenvolvido por causa da técnica. Depois dessa fase, a técnica vai se tornando independente. E é por isso que podemos dizer que a técnica que inventou o homem, pelo fato de ela ter sido necessária para a utilização de instrumentos como a caneta, o pincel, a tinta, gesto esse que propiciou o surgimento da fala.

Sobre a desnaturalização, o professor afirma que quanto mais nos afastamos da natureza, menos a técnica nos influencia, e é após tal período é que surge a linguagem e a formação da cultura. Com o surgimento da máquina (tecnicidade humana), que manipula os instrumentos originalmente utilizados pelo homem, o afastamento homem-natureza amplia-se ainda mais. Não há, assim, como separar o homem da máquina: a cibercultura é a cultura humana manifestada através da máquina.

O próximo assunto abordado em aula foi a tecnologia, que é a ciência da técnica, o conhecimento científico para a utilização dela. A tecnologia é o melhoramento da técnica já existente, para ser mais eficaz, rápida e evoluída. Em seguida, caracterizamos a teoria do Élan Vital, na qual sugere que o órgão é o instrumento natural do homem, enquanto a ferramenta é o instrumento artificial, um prolongamento de seu corpo.

A fase mágica serve para resolver as interfaces do homem com o mundo. A “figura” (objeto) é até onde o homem consegue explicar com a ciência que conhece, já o “fundo” (religião) é o que não sabe explicar, não sabe afirmar com certeza por meio de nossa ciência. Ou seja, a tecnologia serve para resolver os problemas do homem com a natureza, e a religião resolve os problemas do homem com o espírito.

A partir das discussões abordadas em aula, a Cibercultura é a associação entre a cultura contemporânea e as tecnologias digitais, relacionando a técnica e a vida social. A Cibercultura é a manifestação da cultura nos tempos de ciberespaço.


Fernanda Assenato e Rafaela Richter

domingo, 15 de março de 2009

Blog Cibercultura na Rede

O blog Cibercultura na Rede é um espaço para publicação de resenhas dos alunos da Turma A da disciplina de Cibercultura na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

O objetivo do blog é disponibilizar um espaço para os alunos aprimorarem sua crítica frente ao tema debatendo sobre Cibercultura.

Mais informações sobre a disciplina estão disponíveis no site da turma.